Confesso que nem sei como iniciar este post… Tive uma oportunidade tão única e especial que
fica difícil transmitir por palavras tudo o que vivi e senti nestes dias…
A Área Marinha Protegida onde faço o meu EVS colabora muito activamente com o Centro de
Recuperação de Tartarugas Marinhas da Estação Zoológica Anton Dohrn de Nápoles. Para além
do trabalho veterinário de recuperação de tartarugas e devolução à natureza, este Centro faz
também investigação e dedica-se à identificação de ninhos na região da Campania,
protegendo-os e estando presente no momento do nascimento das tartarugas para garantir
que elas vão bem para o mar.
Já no último dia de Agosto eu tinha tido a oportunidade de ir até Palinuro, praia onde está o
ninho, para verificar a temperatura da areia e aplicar a fórmula que faz a previsão do dia em
que acontece a eclosão. Nesse mesmo dia, uma tartaruga Caretta caretta foi encontrada ali
perto e nós transportamo-la até ao Centro.
Falei então com o meu coordenador sobre a hipótese de ir com o pessoal da Estação Zoológica
para a eclosão do ninho de tartarugas. A resposta foi positiva e eu parti para aquela que seria
uma das aventuras mais lindíssimas vivida até agora em Itália
No dia 14 de Setembro fiz a viagem na carrinha do Centro. Para minha surpresa, três
pequenitas viajaram connosco para se libertarem em Palinuro! E foi o que fizemos mal
chegamos lá: libertar estes seres tão pequeninos mas tão fortes naquele mar imenso! Que
sensação!
Voltamos para a praia e montamos acampamento. A organização Sea Shepherd Itália também
estava presente! Suponho que já se estejam a questionar porque não deixamos que tudo isto
aconteça naturalmente? Quando as tartarugas nascem deviam seguir o brilho que o mar
reflecte. Infelizmente a mão humana encheu a natureza de luzes artificiais e quando elas saem
da areia vão na direcção errada e a maioria acaba por morrer… Como não queremos que isso
aconteça, ali estávamos nós…
Os dias eram preenchidos com os turnos de vigia (sim, o ninho não ficou sozinho por um
minuto!), muita conversa entre todos os presentes e muitos banhos no mar (sim, também
aproveitamos o facto de estarmos a viver numa praia!). A falta de conforto não parecia
importar, estávamos ali felizes à espera de contribuir de alguma forma para a Natureza que
tanto teimamos em destruir…
E eis que dia 19 de Setembro, por volta das 22h se começa a ver um bocadinho de areia a
mexer… E sem conseguir explicar, os meus olhos encheram-se de lágrimas! Não sabia como
um momento tão fugaz e tão simples podia ser tão belo e tocante! Vê-se depois um bocadinho
de uma cabeça negra e puff, uma tartaruga! Que emoção! Passa um bocadinho e eis que surge outra tartaruga… Fantástico! E… um vulcão de tartarugas! Ahaha! 67 tartarugas a emergir da
areia ao mesmo tempo! Não havia mais tempo para distracções, este era o momento para o
qual estávamos ali! Pesaram-se e mediram-se algumas tartarugas para estudos científicos e
depois foi a altura de elas começarem a andar para o mar. Mesmo com um corredor montado
e ladeado por plásticos escuros, algumas não seguiam a direcção do mar… Nós ajudamos! E
pronto, lá foram elas para a sua jornada… Quanto a nós, resta-nos continuar com os turnos e
esperar caso alguma nasça mais tarde…
Como mais nada aconteceu, no dia 22 à noite abriu-se o ninho. O que significa isto? Os
responsáveis escavam o ninho para verificar se há alguma tartaruga viva que não tenha sido
capaz de sair e para perceber o sucesso da eclosão. Felizmente só lá encontramos 4 ovos que
não se tinham desenvolvido o que faz uma taxa de sucesso de 95%! Excelente!
No dia seguinte arrumamos tudo e voltamos à nossa rutina (se é que isso existe num EVS).
Estou felicíssima! Obrigada Area Marina Protetta Punta Campanella, Stazione Zoologica Anton
Dohrn e Sea Shepherd!
Olga Azevedo
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