Cheguei
a Lisboa há duas semanas, num período relativamente calmo em que ainda se ouvia
conversas que não tivessem o Coronavirus como alvo. No inicio não gostava
sequer de falar deste tema porque me parecia banal, pouco interessante, os
medos pareciam-me não ser baseados nalguma realidade concreta… Agora devo
admitir que há uns dias que comecei a ver as noticias, ler as publicações no
facebook, até ver a televisão (não me é nada costume) e a deixar-me ser
influenciada por tudo aquilo que tenho visto, ouvido e lido. É frustrante.
Sinto que perdi a minha capacidade de manter-me neutra. Não é que tenha medo.
Tenho é compaixão por todos aqueles que se vejam implicados neste drama.
Sobretudo os profissionais de saúde e as pessoas que ao longo do tempo não vão poder
receber os cuidados que num período normal iam receber.
Ora
bem. Que é que isso tem a ver com o meu voluntariado? Julgo já não existir na
nossa realidade “moderna”, globalizada, hiperconectada; nada que não seja
afectado. Pode ser apenas psicológico… Mas não consigo pensar senão tomando em
conta este virus. Cheguei cá e depois de 3 dias no escritório mandaram-nos para
casa. Acho bem e responsável, conter o virus é cauteloso, razoável. A nível
pessoal, é frustrante. É preciso muita força de vontade para trabalhar quando
não se está no escritório e não foram ainda atribuídas tarefas. Vou ter que ser
mais criativa e proativa para não correr o risco de sentir-me inútil.
Coisas
boas! Apesar de sentir que esta experiência de voluntariado ainda não tenha realmente
começado, posso refletir um pouco sobre aquilo que já experimentei. Posso dizer
que até agora só tenho tido interações boas tanto com os outros voluntários,
sejam da Spin sejam das outras associações, como com os membros da equipa,
apesar de só ter conhecido dois em pessoa! Tenho a sensação de que o ambiente
de trabalho é bom, positivo, e que dá muito espaço para oferecer ideias e para
criar os nosso próprios projetos. Acredito que o trabalho que a Spin faz seja
muito positivo e valorizado por um publico bastante grande e variado; por um
lado, aquele que está diretamente ligado à atividade diária da Spin -
nomeadamente participantes de projetos como ESC, youth exchanges, etc., e por
outro, a comunidade no bairro em que a Spin está inserida. Só tendo passado lá
3 dias, mas o que vejo é um bairro social limpo, cuidado, comunitário, diverso.
Não
podemos saber como é que vai ser a evolução desta situação e como é que vai
afetar a atividade da Spin, mas quem sabe - se os projetos relacionados com o
estrangeiro vem-se restringidos, pode ser que isso nos faz trabalhar mais no
nosso dia-a-dia com a comunidade mais próxima, contribuindo para aqueles
projetos que normalmente vão direcionados para o Live it Lisbon!
Nestes dias tranquilos, em casa, estou a aproveitar para fazer muita leitura,
reflexão, aprendizagem, e tenho como objetivo chegar a decifrar alguma mensagem
que nos está a ser enviada pelo nosso lindo planeta, que, pelo menos, está a
poder respirar um bocadinho melhor…
Um
comentário adicional em relação às fotos que consegui tirar antes de ser
confinada a casa; umas das muitas coisas que adoro desta cidade é a
possibilidade de ter sempre diferentes perspetivas - querendo ou não ir à
procura delas; com as suas sete colinas e o mar tão cerca conseguimos chegar a
lugares expansivos, que nos permitem sermos nós mais expansivos. Expansão da
perspetiva externa também expande a perspetiva interna… Por outro lado, coisas
que nos projetam para o passado, em plena cidade (não sei se Monsanto pode ser
considerado plena cidade)…
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