07 julho 2011

SVE em Edimburgo

Esta aventura começou de forma quase acidental, tendo ouvido falar do Serviço Voluntário Europeu e, apenas com a curiosidade despertada pelo nome, pesquisei mais sobre o projecto, decidi candidatar-me e tentar a minha sorte.

Com a ajuda da SPIN, aterrei em Edimburgo no início de Março para seis meses num projecto de Serviço Voluntário Europeu num pequeno recanto encantado chamado “The Forest”.

O Forest

As minhas funções no Forest são as de coordenação dos voluntários. De duas em duas semanas organizo inductions para os novos voluntários onde lhes explico o que é o Forest e apresento-lhes o espaço.

Explicar o Forest é difícil pois é um projecto tão único quanto cada pessoa que o constitui e a verdadeira chave para entender o funcionamento deste espaço é tomar parte nele.

Formalmente, aquilo que apresento aos novos voluntários é um espaço para artes e eventos e apoio aos artistas e à comunidade local, sem qualquer custo – tanto os eventos e workshops como os espaços – a galeria, a Darkroom para desenvolver fotografias, as Caves para bandas ensaiarem/gravarem, o Hall para grandes eventos, etc. Tudo isto é financiado pelo café vegetariano que funciona no Forest, uma vez que não recebemos qualquer outro tipo de financiamento para estes espaços como bolsas ou fundos do City Council.

Um dos espaços mais populares é o palco para eventos todos os dias da semana durante todo o dia, seja um filme, um concerto ou uma audição para um filme, tudo o que o que é necessário fazer é agendar no livro dos eventos e aparecer com algo de extraordinário para partilhar.

O Forest é 99% movido por voluntários (existem no momento cinco pessoas pagas pelo Forest para funções administrativas como contabilidade ou gestão do projecto de SVE), num colectivo de estrutura hierárquica horizontal e de decisão por consenso.

Essa é a definição formal.

A minha definição para o Forest é a de um projecto extraordinário, moldado ao pormenor pelas pessoas únicas que o construíram, por todos os que aqui passaram e deixaram algo de si. É um projecto que dá de volta tanto quanto colocamos nele. Por vezes pode ser um pouco caótico mas todo o esforço compensa em pequenos momentos espontâneos e extraordinários. Todos os dias são uma surpresa e nunca se sabe o que pode acontecer – por vezes os Sábados à noite são calmos e sem nada de especial a acontecer e, inesperadamente, temos um concerto extraordinário numa Terça-feira (lembro-me, por exemplo, de um final de tarde em que, sem aviso, tivemos uma dezena de pianos Casio espalhados pelo Forest, com grandes parafusos pressionando teclas diferentes – que qualquer pessoa podia alterar em qualquer momento – criando um interactivo efeito sonoro… surreal).

O Forest é isto mesmo: abre espaço para todo o tipo de experiências criativas, muitas vezes numa dinâmica de tentativa-erro: por vezes um fracasso mas, quando bem sucedidas, não podiam ser uma melhor surpresa.

Aqui já tive a oportunidade de experimentar aulas de neerlandês, dança contemporânea, screeprinting, dei por mim de chave de fendas na mão a reparar uma teimosa máquina de plastificar ou de agulha a jeito para fazer pequenos cadernos. Com uma das minhas flatmates, Lien, criei um podcast, ligeiramente (eufemismo!) surreal. De vez em quando puxo pela criatividade para fazer posters e este mês tenho um pequeno rabisco da minha autoria na capa do programa mensal de eventos no Forest.

Por vezes temos grandes eventos com muitas caras novas no Forest como os movimentados eventos de música e leitura de poesia pelos autores ou as Ceilidh, longos eventos com danças tradicionais escocesas que duram tanto quanta for a energia dos participantes. Outras transformam-se numa festa com as caras habituais como as noites de karaoke ou pub quiz. Também já organizei alguns: Crazy Train playlist com os piores/melhores videoclips de sempre, Tea Celebration Day com um menu especial de chá, chapéus e espaço para quem quisesse deixar a sua marca artística com tinta da China em várias mesas. A imaginação e a energia são o limite.

Habitualmente faço o caminho entre o Forest e o meu apartamento a pé. Tenho a possibilidade de usar o autocarro e é fácil arranjar uma bicicleta nesta cidade, mas durante aqueles vinte minutos de caminhada, habitualmente a ouvir música, tenho tempo de arrumar as ideias, apreciar Edimburgo e a vida aqui. Não sei dizer ao certo em que dia mas sei que a decisão surgiu tão naturalmente como o caminho para casa, a ouvir música e envolvida pelo ambiente de um final do dia aqui: decidi ficar em Edimburgo depois de terminar o SVE, por mais uns meses talvez – trabalhar, estudar, neste momento tenho todas as opções ainda em aberto.

O Forest prepara-se para uma nova fase na sua história uma vez que o edifício onde estamos agora foi vendido e temos de sair no início de Setembro. Esta é uma das razões pelas quais quero ficar: quero definitivamente estar envolvida no novo capítulo do Forest, tomar parte no que aí vem e contribuir para a energia que vamos precisar para escrever este novo momento.

Estou cada vez mais envolvida no Forest e é impossível não deixar de me sentir realizada quando as caras que fazem o Forest reagem com um sorriso feliz à notícia de que vou ficar depois do SVE e pretendo continuar envolvida neste projecto tanto quanto me for possível. Num projecto tão vincado pelas pessoas que o constroem, não podia sentir-me melhor neste momento enquanto mais uma peça do puzzle que é este colectivo.

"A city so beautiful that it breaks the heart again and again."

Não pretendo nunca limitar as minhas opções e aquilo que quero conhecer mas neste momento sinto-me muito bem nesta cidade e Edimburgo tem muito para ser o espaço ideal para mim. Apesar de ser uma cidade, é relativamente “familiar” e é fácil atravessar a área onde vivo até ao Forest e cruzar-me com muitas caras conhecidas (ao fim de dois meses no Forest, o Facebook ameaçou bloquear-me a conta porque estava a adicionar demasiados novos amigos…).

Há uma mistura perfeita entre a cidade e a Natureza, com grandes extensões de verde ideais para passeios e picnics a dois passos do centro da cidade. A arquitectura da cidade é especial, mais horizontal do que vertical e dominada por edifícios relativamente antigos (ao contrário, por exemplo, de Glasgow com grandes torres envidraçadas e um ambiente mais urbano), pequenos recantos e ruelas, pontes sobre níveis inferiores da cidade com Edimburgo a cruzar-se sobre si própria. O próprio ambiente cultural e de espírito diy (do it yourself) é vibrante e o incentivo ao empreendedorismo motivador.
É impossível não sentir saudades da família, dos amigos e de Portugal mas a Internet, as redes sociais, os postais, os telefones e as viagens low-cost sempre vão ajudando a atenuar a distância. Os últimos quatro meses têm sido nada abaixo de extraordinários e a minha candidatura para o SVE foi uma decisão que valeu todo o esforço e devo tudo à SPIN e ao Forest por todo o apoio que me têm dado e a oportunidade que me ofereceram. Este é, definitivamente, um novo capítulo na minha vida e não podia estar mais feliz por o ter entrelaçado com o Forest e Edimburgo.

                                                Margarida Jorge

1 comentário:

  1. posso concorrer para este ano? podes me dar uma ajuda?? o meu email é vania.santoscouto@gmail.com

    ajuda me! obrigada!

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