Lembro-me perfeitamente do primeiro dia, 7 de Abril de 2013, em Cracóvia, aquele sentimento, um misto de êxtase e curiosidade.
À minha espera, no aeroporto, estava a minha coordenadora que me levou à minha nova casa, onde uma refeição tipicamente ucraniana tinha sido preparada para me receber e 3 raparigas sorridentes não paravam de me abraçar.
A ucraniana Maria sempre gostou de cozinhar, sem poupar no açúcar, e de tal forma exagerada que, para terem uma ideia, a nossa páscoa “ortodoxa” demorou semanas. Entretanto, a Maria já voltou para o seu país porque o seu projeto de SVE terminou, dando entrada, na nossa acolhedora casa, a doce Nanda da Holanda.
Somos 4 aqui a viver agora, com a Barbara da Hungria, que me guia nesta cidade desde o primeiro dia, e com a italiana Annabel que, sendo bastante gesticuladora e alegre, faz-me chorar a rir quase todos os dias. São tantas as vezes em contemplo a sorte de as ter conhecido!
Não foi a minha primeira vez em Cracóvia, mas, a minha memória curta lembrava-se pouco da cidade. Quando cá estive, em 2011, não foi suficiente para perceber a sua essência – a praça mais bonita alguma vez vista na Europa no centro da cidade, as antigas lendas nas esquinas dos edifícios, as velas dos bares no bairro judaico Kaziemierz, o delicioso zapiekanki na Plac Nowy, a vodka de tantos sabores a qualquer hora do dia, as mágicas cores do céu ao fim de uma tarde de verão, o amanhecer a partir das 4 da manhã, o outono vermelho e dourado - e, muito menos, para conhecer a diversidade das pessoas, a sua longa e pesada história e as suas mais humildes mas também fortes tradições.
“Como são os polacos?” Perguntam-me tantas vezes. Lembro-me sempre quando viajei de comboio de Cracóvia para Varsóvia. Não tinha dinheiro para pagar a minha viagem, porque esperava um desconto de estudante (típico erro amador), e um senhor polaco, sentado ao meu lado, ofereceu-me o restante em falta.
Porque SVE?
Ter vindo foi uma bênção, até agora, uma das minhas mais acertadas decisões tomadas nesta vida (acreditem, não sou a melhor pessoa para as fazer). Em Coimbra estava a deprimir, depois de dois anos bastante ativos passados em Lisboa, voltei para a minha cidade onde tinha a missão de terminar a minha dissertação de mestrado. Voltei às raízes que amo, mas que me fazem sofrer se as consumir durante dias a fio, sem perspetivas à minha frente. Vim participar nesta experiência e sinto-me uma pessoa diferente, mais feliz, mais aberta para o mundo. Também mais carente de aventura e por isso tenho me atrevido a fazer aquelas coisas que antes pensava não ser capaz de fazer. Terminei a minha tese finalmente. Cantei fado em público. Fui à boleia. Aprendi a comunicar polaco. Entre tantas outras.
Gosto muito do meu projeto de voluntariado. Os primeiros meses do projeto foram difíceis mas com o tempo encontrei o meu lugar e aprendi a integrar-me no ambiente. Sinto-me útil, algo que tinha perdido em mim nos meses antes de vir, quando estava em Coimbra.
De uma certa forma, o projeto está associado à minha área de estudos, porém, não diretamente. Na universidade, aprendi a valorizar a educação e formação das crianças e dos jovens para o desenvolvimento em geral, no entanto, não aprendi a lidar com eles no dia-a-dia. Aqui, aprendo todos os dias com os professores e com os miúdos. Sei que não faço uma grande diferença mas espero, ao fim de 10 meses, ter construído algumas coisas.
Nem que seja nas simples aprendizagens da língua inglesa como saberem dizer Hello, Bye, How are you?, etc., ou pelo facto de eu ter sido a primeira portuguesa que eles conheceram. Aqui farto-me de viajar e conhecer tantas pessoas de outras nacionalidades. Muitas destas pessoas partilham a mesma experiência que eu em outros pontos da Polónia. Apesar de a Polónia ser um grande país, tenho tentado explorar ao máximo – Warsaw, Wroclaw, Tarnow, Gdansk, Lodz, etc.
Até passei 15 dias em Odporyszów, num campo de férias com os miúdos, uma pequena vila que não lembra a ninguém nos confins deste país. Para além disso, tenho o privilégio de estar num local de onde, facilmente, me posso deslocar para outros países – Alemanha, República Checa, Hungria, Eslováquia, Áustria, etc. Estes meses passaram tão rápido e o sentimento de nostalgia começa a atingir-
nos por aqui. “Vamos encontrar-nos todos os anos”, “Vens-me visitar para o ano?”, “Quando irei voltar a Cracóvia?”, lamentos e choros partilhados começam bastante cedo.
Só tenho mais dois meses pela frente e quero aproveitá-los ao máximo. Decidi passar o natal em Cracóvia, o meu primeiro natal “em branco” e longe da família. Felizmente, sinto-me em família aqui e fico demasiado entusiasmada quando penso na neve e mal posso esperar para cozinhar o típico bacalhau aqui. Aqui sinto-me tão bem. Também tenho muitas saudades de casa. Estar aqui faz-me perceber o quão portuguesa sou - pelas saudades que sinto - mas, mais do que isso, ajudou-me a entender melhor quem eu sou, que tenho um mundo à minha espera, que não o quero perder e que quero consumi-lo, que quero sentir mais saudades dos locais que ainda me faltam descobrir.
Sofia Esteves