10 março 2014

Testemunho de Lídia Nicolau: Bienvenues à Lyon

As primeiras semanas passaram num piscar de olhos. As duas primeiras foram ocupadas com as aulas de Francês. E na terceira semana começou o estágio. Antes de sair de Portugal, a curiosidade e as expetativas são muitas. É importante definir objetivos pessoais e profissionais mas também estar consciente que nem tudo será como imaginámos.

Para além da adaptação a um novo país, ficar a viver com uma família de acolhimento também é uma novidade. Mais do que companhia, o fundamental tem sido o acompanhamento numa nova cidade. Algo tão simples como mostrar onde fica o supermercado mais próximo ou emprestar um computador portátil porque o meu tem um problema no monitor são pequenos gestos que fazem diferença.

Determinadas situações em Portugal ganham uma dimensão ampliada quando estamos fora da nossa zona de conforto. Ir às compras é uma tarefa mais demorada, uma ligeira dor de garganta pode ser assustadora e escolher a refeição certa nos tradicionais restaurantes bouchons ou nos bistros é um desafio.

Estar num país onde não se compreende totalmente a língua é uma alavanca para que certas situações se tornem em tarefas árduas. Logo, as peripécias são algumas. A mais recente foi o aluguer de uma bicicleta. Em Lyon foi criado um sistema inovador de empréstimo de vélos. 

Na cidade existem 365 postos onde se levar emprestada uma bicicleta. Conseguir pagar o “empréstimo” revelou-se uma missão demorada. Para um dia o valor do aluguer é 1,5€ e o valor da caução é de 150€. Conseguir perceber esta simples informação só foi possivel com ajuda e paciência de um monsieur.

Até agora, os lyonnais têm se mostrado pessoas simpáticas, agradáveis e prestáveis.

Parece que dizem “bonjour” a sorrir e quando ouvem falar outra língua perguntam de onde somos, porque estamos em Lyon e como está a situação em Portugal. E confirma-se que regressam a casa com as tradicionais baguetes na mão.

Pode parecer estranho estar a escrever no plural mas o programa Leonardo da Vinci para Lyon incluía duas vagas. Viajar para um país estrangeiro na companhia de um colega (ou melhor, de um amigo) confere bastante segurança e apoio em todo o processo de adaptação. Porém, as palavras de ordem são sempre motivação,  flexibilidade  e vontade de aproveitar este desafio.

Parece que ainda mal conheço a cidade e tudo o que tem para oferecer. Mas, por outro lado, já não me sinto perdida e nem tenho de perguntar constantemente as direções seja para onde for. Lyon já é a minha cidade e já me conquistou. É uma cidade cosmopolita, movimentada, grande e convidativa. E que ao mesmo tempo sabe ser tranquila e marcar o seu ritmo. As boulangeries e as patisseries sao sítios deliciosos e as suas montras são minuciosamente decoradas. Existem vários quiosques de floristas que dão às ruas um bonito colorido.  Em dias de sol e céu azul, as esplanadas e os jardins enchem-se de pessoas. Aos domingos quase todo o comércio (incluindo os maiores centros comercais) fecha as portas. Talvez por isso aqui em Lyon, quase todos os espaços publicos fiquem repletos de gente.

Com exceção de duas colinas, Fourvière e Croix-Rousse, a cidade é plana. Para além das bicicletas, quase tudo o que tem rodas serve como meio de transporte. Patins, monociclos, skates e trotinetes. Saltos altos e gravatas combinam na perfeição com estes meios de mobilidade. Crianças que ainda mal sabem andar já são habilidosas patinadoras.

No entanto, Lyon dispõe de uma ótima rede de transportes públicos que cobre toda a cidade. Por exemplo, nas linhas mais movimentadas nas horas de ponta, o metro passa de dois em dois minutos. E aqui, o passe para os transportes públicos custa 5 euros e fica pronto na hora.

Um dos meus objetivos é ficar a conhecer bem a cidade de Lyon. Alguns dos pontos incontornáveis são a Place Bellecour (a maior da cidade e uma das maiores da Europa), passear junto dos rios Saône e Rhône qua atravessam a cidade e lhe conferem um encanto singular, apreciar as grandes paredes pintadas com recurso à técnica trompe l'oeil, visitar alguns dos muitos museus, passear nos 117ha do Parc de la Tête d'Or (um dos maiores de França), explorar os mercados ao ar-livre que acontecem aos fins de semana de manhã, atravessar Vieux Lyon (e passar pelos traboules – passagens secretas nos prédios) para chegar a Fourvière e ter a vista panorâmica mais deslumbrante da cidade.
Ver o anoitecer sobre a cidade no seu ponto mais alto é uma imagem que nunca vou esquecer.

E ainda há tanto para descobrir aqui. Daqui a pouco tempo espero sentir-me como uma local mas olhar para Lyon como uma criança olha para um brinquedo novo.

Lídia Nicolau

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