14 março 2014

Testemunho do Ricardo Esteves, estagiário Leonardo da Vinci na Irlanda do Norte

Eis uma Senhora experiência. Longe e consideravelmente fria,  Derry é uma pequena "grande" cidade. Após um mês, sinto que finalmente já me "encaixei" neste meio irlandês.

Pessoalmente, considero esta experiência como uma excelente oportunidade para quem nunca fez erasmus, e para quem muitas vezes pondera a emigração, como é o meu caso. 
3 meses é o tempo ideal para esclarecer algumas ideias, e Derry é em vários sentidos, um excelente sítio para tal.

Lisboa guarda-me grandes tesouros, e viver sem eles não é fácil. Confesso que as duas primeiras semanas pareceram uma eternidade, apesar de estar a entusiasmado com a experiência. Mas com uma enorme facilidade se constroem amizades nesta cidade, e sem darmos por isso ficamos entranhados numa simpática rotina.

Digo que Derry é uma "pequena" cidade porque aqui toda a gente conhece toda a gente, e facilmente reconhecem quem é de fora. No entanto, torna-se grande pela atitude que  têm connosco: todos fazem questão de se certificarem que estamos bem e felizes. Especialmente os mais embriagados, que são bastantes. 

As pessoas daqui cumprimentam toda a gente com quem se cruzam, quando nos vêem com um mapa na mão perguntam-nos se precisamos de ajuda, telefonam ou procuram com internet móvel por ruas que perguntamos… existe um esforço colectivo  notável para receber estrangeiros.
O maior choque será provavelmente o tempo. 
O frio é constante, mas a chuva, o granizo e a neve são uma inconstante, já vi num espaço de 10 minutos fazer sol, granizo, chuva, neve, e novamente sol. 

Eventualmente temos de nos habituar a não depender de todo do tempo, e estar sempre preparados para a chuva.

A comida também é diferente. Uma pessoa tem de vir preparada para novas experiências, especialmente quando estamos submetidos à cozinha de uma família de acolhimento.
A batata é uma constate, são raros os pratos em que não levem um tipo de acompanhamento derivado da batata, e posso partilhar que já tive uma refeição em que consistia em batata à murro, com batata frita, com puré de batata com molho de carne, e um tomate-cereja.

A cultura do pub é muito diferente do que se vê em Lisboa: depois do jantar às 5 da tarde, o pub é o local de retiro de toda a gente, e com toda a gente refiro-me tanto a crianças de 10 anos como a pessoas com os seus valentes 70-80 anos. A idade parece não fazer diferença em pubs, assim como as culturas e os tipos de pessoas. Vê-se de tudo. Apesar de não serem discotecas, têm muita música ao vivo para quem quiser dançar, ou simplesmente ouvir boa música, mantendo sempre um nível tolerante para quem quer conversar.

A música está em todo o lado nesta cidade. Cada canto está repleto de estudantes com instrumentos às costas, de todos os tipos. A música tradicional irlandesa está à mercê de quem a quiser encontrar, e facilmente recebem outros músicos e curiosos, ou até pessoas que fazem barulho com instrumentos como é o meu caso. Inclusive existe um símbolo que pode ser encontrado à porta de grande parte dos pubs que convida qualquer músico a entrar e a tocar se assim o desejar.


Derry tem muitos sítios por onde passear e para visitar, e torna-se ainda mais agradável quando se tem sorte com o tempo, e com facilidade se viaja de comboio e se chega a locais espectaculares com paisagens à "senhor dos anéis" ou "game of thrones", como é o caso do "Giant Causeway", e toda a costa envolvente a qual já tive o prazer de conhecer.

Contudo, já passou um mês. As saudades já apertam, mas ao mesmo tempo já se sentem algumas raízes a crescer deste lado, compreensível num solo fértil como o da Irlanda.

Devo realçar também que nunca falei com tanto orgulho do Cristiano Ronaldo, nem nunca vibrei tanto a ver o Benfica a jogar.

Ricardo Esteves

0 comentários:

Enviar um comentário