As viagens de carro para mim são uma das melhores partes do dia, desde que eu possa me lembrar eu viajo com a minha família e sinto uma liberdade enorme, o vento sobrando no seu rosto, a música tocando no rádio, as pessoas tentando acompanhar no fundo. Para mim não tem nada melhor, e aqui na Itália com essas paisagens de tirar o fôlego, com as suas enormes montanhas, as casas que parecem estar isoladas do resto do mundo, os inúmeros ciclistas que não tiram um dia de descanso, as pessoas que estão a espera do autocarro ou mesmo aquelas
que tem a coragem de fazer o percurso a pé, o que não é nada fácil já que o sol italiano não tem misericórdia de ninguém.
Tem pessoas que não aguentam ficar trancadas o dia todo tão limitado, por se sentirem presas e com pouco coisa para se fazer. Mas, o que elas não percebem ou não conseguem enxergar é que apesar de estarem condicionadas num pequeno espaço a mente delas não poderia estar mais livre. Por exemplo, sempre que temos de fazer uma pequena viagem para Rimini, eu me imagino numa das infinitas casas que podem ser vistas, vivendo uma vida simples ou como seria seu eu tivesse nascido na Itália em vez do Brasil? Qualquer coisa pode acontecer se você deixar a sua imaginação correr livre.
Para uma pessoa tímida como eu, falar com um largo grupo de pessoas num espaço aberto não é uma tarefa fácil, mas, já no carro ouvindo uma boa música, já começo a me sentir mais confortável, e sinto vontade de falar de tudo e mais um pouco. E são nessas pequenas viagens quer quando vamos ao supermercado ou fazer qualquer outra coisa em Rimini que eu começo a conhecer melhor cada uma das pessoas que habitam CasaMondo.
Quando fomos a um concerto em Rimini em celebração ao “Dia Mundial dos Refugiados” (20/06/2019), a agitação e a animação na minivan era papável e não era para menos, foi um dia fantástico, com muita dança e gargalhadas. E na volta para CasaMondo, mesmo com as nossas poucas energias, fizemos o nosso próprio concerto na minivan, talvez um pouco desafinado e fora do ritmo, mas, o importante é que estávamos entre amigos e a festa tinha de continuar nem que seja por poucos minutos.
Um outro dia que foi guardar na minha memória foi a nossa ida para as Cascadas, e mais uma vez, o nosso dia começa na nossa querida minivan, colocamos as nossas malas no bagageiro fechamos as portas a marcha é iniciada e partimos para mais uma aventura. Antes de chegarmos ao nosso destino nos deparamos com panoramas incríveis, mais uma vez as montanhas embelezam a nossa jornada as pequenas vilas que podem ser vistas ao longe e os rios que dão vida a essa bela paisagem.
Uma grande viagem que fizemos foi para Veneza, a cidade das máscaras, e para isso o nosso dia teve de começar cedo, tínhamos um longo caminho pela frente. Já na minivan, se inicia a nossa jornada e, como não podia deixar de ser, tivemos de romper o nosso dia com uma selfie, e logo a seguir, como era de se esperar, tiramos uma deslumbrante soneca. A minivan se torna a nossa segunda cada por severas horas, algumas pessoas conversam, outras ficam mexendo nos seus telemóveis para ver as novidades do dia, e tem aquelas que precisam de um pouco mais de repouso. Por fim, depois de inúmeras horas, é possível avistar Veneza, uma vista de corta o fôlego, que com certeza vou guardar na minha mente para o resto da minha vida.
A viagem de volta para CasaMondo foi tranquila e sossegada, todos estavam esgotados com o evento do dia anterior, com a extensa caminhada que fizemos pelas ruas e becos de Veneza. Apesar de termos ficado lá só um dia, foi um dos melhores dias que tive nos meus 25 anos, por ter sido um dia repleto de risadas, sorrisos, conversas, selfies, e apesar de ter sido de um dos dias mais quentes nem o sol, nem a infinita multidão que cerca Veneza podia estragar da nossa grande família em CasaMondo.
A essência deste projeto é integrar os voluntários com os moradores de CasaMondo, e apesar dos obstáculos, um deles a língua, já que nem todos sabem a língua inglesa, aos poucos com conversa aqui e ali, jogando jogos de tabuleiro, fazendo uma sessão de cinema, estes obstáculos são quebrados. CasaMondo é uma casa de diversidade, com as suas várias nacionalidades, etnias, religiões, costumes, culturas, indivíduos com as suas próprias características, o que torna a integração quase que espontânea.
No meu primeiro mês em CasaMondo, eu não vou mentir, me senti um pouco deslocada, perdida, não sabia muito bem o que era suposto eu fazer, o que era normal, por ser a minha primeira vez fora de casa, longe da minha família, dos meus amigos, de tudo aquilo que eu conhecia e me era familiar. Mas, com o passar do tempo, com a ajuda e apoio de todo mundo na casa fui começando a me sentir mais a vontade, e CasaMondo, situada nessa pequena vila em San Savino na Itália, acabou por se tornar a minha segunda casa.