09 abril 2013

Dois Incríveis meses de SVE

Desde o início, o meu SVE tem sido diferente do que eu esperava. Comecei o processo de seleção em outubro de 2012, com a ideia de ir logo depois do verão de 2013 para algum lugar longe da Espanha, as para mim o importante era o facto de colaborar num projeto com imigrantes ou crianças.

No início de fevereiro, o telefone tocou anunciando uma vaga livre num projeto em Lisboa. O meu primeiro pensamento foi que Lisboa é muito próxima da Galiza para se tornar algo interessante e diferente e que esta cidade não seria capaz de mudar a minha vida. Mas quando li os dados do projeto, este começou a interessar-me mais e mais, até que Lisboa se tornou uma grande oportunidade.

O primeiro “problema” foi saber que em só uma noite tinha que decidir se aceitava ou não o projeito e em seis dias tinha que tomar o avião de caminho para minha nova vida. Depois de pensar sobre isso, olhando à minha volta e pensando sobre o que ia deixar na Galiza e imaginando o que estava por vir, eu embarquei e disse adeus a tudo o que tinha ao meu redor.

Dois meses depois, eu me lembro deste momento como o início e o fim de muitas coisas. O fim de 26 anos na Galiza e o início de uma viagem que eu não sei onde vai acabar.

A principal razão porque estou em Lisboa é para colaborar com o ATL (Actividades Tempos Livres) de uma escola do Bairro Padre Cruz, nos arredores de Lisboa. Desde o início a minha equipa de trabalho disse-me que ia a ser um projeto difícil pelas características sócio-culturais do bairro. Estas crianças são um reflexo da sociedade em que vivemos. Todas elas têm mil problemas, muitas histórias que eu não sei e, provavelmente, ninguém sabe. Vou-me surprendendo a cada dia descobrindo cicatrizes, observando como as crianças sorriem e choram em poucos segundos, vendo como eles se apoiam e como ficam com raiva entre si.

Hoje eu falei com uma menina que estava sozinha, que acreditava que ninguém lhe prestava atenção, que os seus amigos a odeiam... e ela repetiu essas frases por cinco vezes até que eu comecei a entender o seu Português. Uma menina de 13 anos chora e lamenta-se e pára de chorar para poder falar devagar de modo que asim eu a possa entender. Uma pessoa deixa os seus problemas para que eu possa ter uma conversa com ela.

Com momentos como este eu acredito que o importante não é a cidade onde você está, não é a língua, ou nivel socioeconómico. A única coisa que importa são as pessoas. Apenas estar com esta menina e tentando que ela se sinta bem valeu a pena estar aqui.

Para mim Lisboa não é apenas uma oportunidade de conhecer novas culturas, novos lugares ou participar em festas ... Para mim, o SVE em Lisboa, é a oportunidade de conhecer o pequeno mundo das crianças com quem trabalho e tentar entender os seus, que são parecidos com o mundo ao meu redor e com o mundo que estamos a construir entre todos.

“Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada ago a lua toda brilha, porque alta vive.” Ricardo Reis
Laura

0 comentários:

Enviar um comentário